sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Bela resenha sobre a Mostra Grampo


SUGESTÃO DE BIOGRAFIA DA GRAMPO
Desde que o século XXI pariu para a história da literatura o formato fanzine de publicações, os seus entusiastas moveram-se em diversas direções com vistas ao fortalecimento desta “guerrilha editorial”. A integração entre os que publicavam de forma independente foi do serviço postal à rede mundial de computadores passando pelos eventos presenciais de celebração e divulgação da atividade zineira.
Nesse marco se insere a Mostra Grampo de Fanzines e Afins que, nas suas quatro edições, reuniu em praça pública autoras e leitores de fanzines e demais expressões artísticas promovendo a prática do DIY (faça você mesmo).
A primeira experiência de produção da Grampo – como é chamada na intimidade – aconteceu entre 09 e 11/10/15 no Rio de Janeiro/RJ. Neste ano, completaram-se os cinquenta anos de lançamento do primeiro fanzine nacional, o FICÇÃO do jornalista Edson Rontani. Este fato inclusive é o motor da celebração, a cada 12/10, do Dia Nacional do Fanzine. A edição inaugural da Mostra Grampo teve na sua organização a destacada participação da moçada da Gangue AMEOPOEMA de Literatura na Rua, mas envolveu os mais diligentes zineiros e zineiras cariocas e aproximou tantos outros da celebração do fazer zínico. A convocatória para o evento fez-se através das mídias mais caras aos organizadores: a filipeta, um fanzine próprio da mostra, o boca-a-boca e até as redes sociais. Pela rede, impulsionou-se o chamado internacional para o envio de fanzines para a cx postal do Selo Editorial Outras Dimensões. A resposta superou as expectativas qualitativas e quantitativas. Formou-se ali um acervo que ficou exposto durante as atividades da Mostra Grampo e em exposição na Sala de Cultura da UFRRJ até 13/11. O palco principal foi o espaço na Cinelândia* em frente ao Cine Odeon. Da sua programação constou uma palestra com o zineiro e ativista cultural Heyk Pimenta, uma sessão especial (tema fanzines) do coletivo cineclubista Mate com Angu, um pocket-show de Fabrício Fortes (RS), o singular sarau delirante AMEOPOEMA, que inclui o tradicional caixote aberto a intervenções, além de venda de zines. A Grampo seguiu ainda nessa estreia para o Espaço Cult LaEnCasa, na Zona Oeste/RJ, com uma roda de conversa sobre fanzines e educação encabeçada pelas participações da zineira e ativista cultural Lola Madison, pelo professor/zineiro Felipe Araújo representando o Ponto de Cultura Boca Aliança e pela mestranda/UERJ Maria Cândida Frederico. Os presentes contaram também com o riquíssimo relato do autor Marcio Sno (SP), lançando o livro “O Universo Paralelo dos Zines”.
Em 2016, a 2ª edição da Mostra também ocorreu no início de outubro. Além do sarau de abertura, na Cinelândia, a Grampo ocupou a Escola de Comunicação da UFRJ para a troca de ideias com os pesquisadores acadêmicos acerca dos diversos aspectos que envolvem a cultura do zine. Abrilhantaram o papo a doutoranda/PUCRJ Maria Cândida Frederico, o mestrando/UFRJ Felipe Araújo e o pesquisador /UFF João Pedro Campos.
A 3ª Mostra Grampo, de 06 a 10/10/2017, envidou tantos esforços para a sua realização como as antecessoras. Dedicação esta recompensada por demonstrar que como diz o poeta “sonho que se sonha junto é realidade.” A esta altura ninguém mais se surpreendia com a excelência do material que chegava para exposição e testemunhava a importância que poetas, quadrinistas, desenhistas, militantes e toda a sorte de zineiros já davam a Grampo. O sarau AMEOPOEMA de abertura contou com o presença musical do cantor e compositor Joca Jorge e seu ParticipaShow, a canja de Thiago Caronte da banda Velho e a apresentação poéticomusical do escritor Guilherme Zarvos no Zarvolex Dark Freak Pop. O momento audiovisual teve a exibição dos curtas selecionados por Nelson Neto e surpreendemo-nos com a tradição do espetáculo circense de Jorge Lira. Nas artes visuais, contamos com uma exposição fotográfica com trabalhos de Conrado Gonçalves, Lívia Uchôa, Fabíola Loureiro e Pedro Lacerda e com a instalação Máchinas Dactilográphicas da turma do coletivo Ratos Diversos. Em parceria com o Bar Kunin/ Espaço Outrxs, na Zona Norte da cidade, o segundo dia pautou a seleção de filmes do projeto PORNOPIRATA de Bruna Kury para a popularização da arte Pós-Pornô e outros curtas protagonizados por fanzines. A 3ª Grampo fechou com o evento ENTEAR ocorrido no Beco das Artes, na região central da capital. Neste Encontro pra Trocas Experimentais de Artes de Rua a Grampo exibiu o acervo de fanzines dessa edição e debateu com realizadoras de outros eventos a experiência de autofinanciamento para produção de atividades culturais nos espaços públicos.
A 4ª Mostra Grampo de Fanzines e Afins viajou para a cidade de Ouro Preto/MG, em outubro de 2019, pelas mãos de seu primogênito organizador, o escritor Rômulo Ferreira. Articulando-se com a FAOP (Fundação de Artes de Ouro Preto), a Grampo coordenou-se com o evento Sextas Abertas e o Seminário Arte Hoje, ambos dessa Fundação. O Programa de Iniciação a Docências - PIBID/UFOP permitiu um trabalho de produção de fanzines como ferramenta educativa e de mobilização social com o alunado da E. E. Horácio Andrade que se destacou no evento. O material de vários estados encaminhado para exibição ocupou desta vez o Núcleo de Artes/FAOP, permanecendo exposto até 2020, tamanho o interesse despertado. A FAOP também foi anfitriã do bate-papo sobre autopublicação com os ativistas do Movimento Hip-Hop Stefano Azevedo e Matheus Inka, da palestra “A Arte como forma de (R)Existência” com o poeta Carlos Melo sobre a experiência com o fanzine Jangu Livre do grupo cearense Poetas de Lugar Nenhum, da exibição do média de Márcio Sno(SP) “Fanzineiros do Século Passado(vol.I), do lançamento do livro “Ancestralidades – Coletânea de Escritores Negros, do Suplemento ACRE#13 e da edição comemorativa de 01 ano do “Fanzine Vila Pobre Zine”. A Pça. Antônio Dias virou palco para a moçada das artes visuais em “Barroco Afrofuturista” por Douguiníssimo Nãt e “Ouro Preto Colorida” por Taciana Nogueira, além da performance multimídia “Literatura pra Dançar!” de Juliano Mendes e Henrique Rocha. A sonoridade stricto sensu ficou por conta da Banda Diastema de Bruno Souza e Thiago Fernandes e de Ulisses com sua “Black Voodoo – One man Band”.
* Praça no centro da capital fluminense que é confluência dos maiores movimentos sociais na cidade.


Por Eduardo Sacramento - RJ



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