SUGESTÃO
DE BIOGRAFIA DA GRAMPO
Desde
que o século XXI pariu para a história da literatura o formato fanzine de
publicações, os seus entusiastas moveram-se em diversas direções com vistas ao
fortalecimento desta “guerrilha editorial”. A integração entre os que publicavam
de forma independente foi do serviço postal à rede mundial de computadores
passando pelos eventos presenciais de celebração e divulgação da atividade
zineira.
Nesse
marco se insere a Mostra Grampo de
Fanzines e Afins que, nas suas quatro edições, reuniu em praça pública
autoras e leitores de fanzines e demais expressões artísticas promovendo a prática
do DIY (faça você mesmo).
A
primeira experiência de produção da Grampo
– como é chamada na intimidade – aconteceu entre 09 e 11/10/15 no Rio de
Janeiro/RJ. Neste ano, completaram-se os cinquenta anos de lançamento do primeiro
fanzine nacional, o FICÇÃO do jornalista Edson Rontani. Este fato inclusive é o
motor da celebração, a cada 12/10, do Dia Nacional do Fanzine. A edição
inaugural da Mostra Grampo teve na
sua organização a destacada participação da moçada da Gangue AMEOPOEMA de Literatura na Rua, mas envolveu os mais
diligentes zineiros e zineiras cariocas e aproximou tantos outros da celebração
do fazer zínico. A convocatória para o evento fez-se através das mídias mais
caras aos organizadores: a filipeta, um fanzine próprio da mostra, o
boca-a-boca e até as redes sociais. Pela rede, impulsionou-se o chamado
internacional para o envio de fanzines para a cx postal do Selo Editorial
Outras Dimensões. A resposta superou as expectativas qualitativas e
quantitativas. Formou-se ali um acervo que ficou exposto durante as atividades
da Mostra Grampo e em exposição na
Sala de Cultura da UFRRJ até 13/11. O palco principal foi o espaço na
Cinelândia* em frente ao Cine Odeon. Da sua programação constou uma palestra
com o zineiro e ativista cultural Heyk Pimenta, uma sessão especial (tema
fanzines) do coletivo cineclubista Mate com Angu, um pocket-show de Fabrício
Fortes (RS), o singular sarau delirante AMEOPOEMA, que inclui o tradicional
caixote aberto a intervenções, além de venda de zines. A Grampo seguiu ainda nessa estreia para o
Espaço Cult LaEnCasa, na Zona Oeste/RJ, com uma roda de conversa sobre
fanzines e educação encabeçada pelas participações da zineira e ativista
cultural Lola Madison, pelo professor/zineiro Felipe Araújo representando o
Ponto de Cultura Boca Aliança e pela mestranda/UERJ Maria Cândida Frederico. Os
presentes contaram também com o riquíssimo relato do autor Marcio Sno (SP), lançando
o livro “O Universo Paralelo dos Zines”.
Em
2016, a 2ª edição da Mostra também
ocorreu no início de outubro. Além do sarau de abertura, na Cinelândia, a Grampo ocupou a Escola de Comunicação da
UFRJ para a troca de ideias com os pesquisadores acadêmicos acerca dos diversos
aspectos que envolvem a cultura do zine. Abrilhantaram o papo a
doutoranda/PUCRJ Maria Cândida Frederico, o mestrando/UFRJ Felipe Araújo e o pesquisador
/UFF João Pedro Campos.
A
3ª Mostra Grampo, de 06 a 10/10/2017,
envidou tantos esforços para a sua realização como as antecessoras. Dedicação
esta recompensada por demonstrar que como diz o poeta “sonho que se sonha junto
é realidade.” A esta altura ninguém mais se surpreendia com a excelência do
material que chegava para exposição e testemunhava a importância que poetas,
quadrinistas, desenhistas, militantes e toda a sorte de zineiros já davam a Grampo. O sarau AMEOPOEMA de abertura
contou com o presença musical do cantor e compositor Joca Jorge e seu
ParticipaShow, a canja de Thiago Caronte da banda Velho e a apresentação
poéticomusical do escritor Guilherme Zarvos no Zarvolex Dark Freak Pop. O
momento audiovisual teve a exibição dos curtas selecionados por Nelson Neto e
surpreendemo-nos com a tradição do espetáculo circense de Jorge Lira. Nas artes
visuais, contamos com uma exposição fotográfica com trabalhos de Conrado
Gonçalves, Lívia Uchôa, Fabíola Loureiro e Pedro Lacerda e com a instalação Máchinas
Dactilográphicas da turma do coletivo Ratos Diversos. Em parceria com o Bar
Kunin/ Espaço Outrxs, na Zona Norte da cidade, o segundo dia pautou a
seleção de filmes do projeto PORNOPIRATA de Bruna Kury para a popularização da
arte Pós-Pornô e outros curtas protagonizados por fanzines. A 3ª Grampo fechou com o evento ENTEAR
ocorrido no Beco das Artes, na região central da capital. Neste Encontro
pra Trocas Experimentais de Artes de Rua a Grampo
exibiu o acervo de fanzines dessa edição e debateu com realizadoras de outros eventos
a experiência de autofinanciamento para produção de atividades culturais nos
espaços públicos.
A 4ª Mostra Grampo de Fanzines e Afins viajou
para a cidade de Ouro Preto/MG, em outubro de 2019, pelas mãos de seu
primogênito organizador, o escritor Rômulo Ferreira. Articulando-se com a FAOP
(Fundação de Artes de Ouro Preto), a Grampo
coordenou-se com o evento Sextas Abertas e o Seminário Arte Hoje, ambos dessa
Fundação. O Programa de Iniciação a Docências - PIBID/UFOP permitiu um trabalho
de produção de fanzines como ferramenta educativa e de mobilização social com o
alunado da E. E. Horácio Andrade que se destacou no evento. O material de
vários estados encaminhado para exibição ocupou desta vez o Núcleo de
Artes/FAOP, permanecendo exposto até 2020, tamanho o interesse despertado. A
FAOP também foi anfitriã do bate-papo sobre autopublicação com os ativistas do
Movimento Hip-Hop Stefano Azevedo e Matheus Inka, da palestra “A Arte como
forma de (R)Existência” com o poeta Carlos Melo sobre a experiência com o
fanzine Jangu Livre do grupo cearense Poetas de Lugar Nenhum, da exibição
do média de Márcio Sno(SP) “Fanzineiros do Século Passado(vol.I), do lançamento
do livro “Ancestralidades – Coletânea de Escritores Negros, do Suplemento
ACRE#13 e da edição comemorativa de 01 ano do “Fanzine Vila Pobre Zine”. A Pça.
Antônio Dias virou palco para a moçada das artes visuais em “Barroco
Afrofuturista” por Douguiníssimo Nãt e “Ouro Preto Colorida” por Taciana
Nogueira, além da performance multimídia “Literatura pra Dançar!” de Juliano
Mendes e Henrique Rocha. A sonoridade stricto
sensu ficou por conta da Banda Diastema de Bruno Souza e Thiago Fernandes e
de Ulisses com sua “Black Voodoo – One man Band”.
* Praça
no centro da capital fluminense que é confluência dos maiores movimentos
sociais na cidade.
Por Eduardo Sacramento - RJ